Wednesday, February 22, 2006

















































Réveillon na Kitchenette


A melhor definição veio de um especialista em Copacabana:
"É maravilhoso, como se fosse o réveillon numa kitchenette. Uma
democracia agressiva, a intensividade de Copa multiplicada,
eletricidade de gente fulminante", declarou Fausto Fawcett, às seis da
tarde de sábado, no balcão do Cervantes, copo de Ballantines numa mão,
caldeireta de chope na outra. Faltavam quatro horas para o concerto dos
Rolling Stones na praia.
"Nesse sentido eu sou fundamentalista: qual banda poderia reunir cinco
gerações? Não é chama, eles mantêm um incêndio aceso. Tinha que ser
aqui, não poderia ser em outro lugar. Copa é Rolling Stones, um
homenageia o outro. É sensacional", disse Fausto, citando Exile on
Main Street, o "maior disco de todos os tempos". "Eles vão abrir e
fechar com dois hinos. 'Eu não consigo ter satisfação' é o hino da
humanidade."
Na praia, tinha de tudo: motoqueiros com casaco de couro e chifres no
capacete, bebês vestidos de preto, "wisk" com red bull, uma competição
pacífica de camelôs, punks e pitboys, pivetes, profissionais do sexo
(de folga), das drogas e do rock, turistas sem norte, onde parecia não
haver pecado. Uma multidão movida a skol e churrasquinho. Mais de
1,2 milhão de pessoas reunidas, muitos desmaios e celulares furtados,
quase nenhuma confusão, e o vocalista do Afroreggae, grupo criado
na Favela de Vigário Geral, que abriu a noite, se empolga: "Não existe
divisão no Rio." Não é verdade. Um mendigo tentou dar uma explicação
para a quase inacreditável ausência de tumulto: "Copacabana não precisa
de detector de metais".
Um frade perdido em meio a Sympathy for The Devil? "Sou admirador
desses meninos há 40 anos. Acho muito bonito, é importante estar com o
povo, ao lado da juventude", disse o frei Francisco Alves Barbosa,
vestido a caráter, que se apresentou como promotor vocacional da
Congregação dos Padres Sacramentinos. Tirou fotografias ao lado de fãs
da banda. A reportagem perguntou sobre as letras: "Gosto da música,
mas não sei inglês. É alegre, extrovertido, me sinto encantado." O
índio Benki Pivanko veio de longe - ele é de uma tribo que fica na
divisa do Acre com o Peru. "É muito barulhento, mas eu gostei."
Dennys e Angélica Cintra são dois sortudos: sem crachá vip, eles
chegaram lá. Os dois ficaram na primeira fila do gargarejo, no ponto
central mais próximo do palco, na frente de 1, 2 milhão de mortais.
"Tenho uma história pra te contar: hoje é nosso aniversário de
casamento, foi o meu presente para ela", disse o apaixonado Dennys, de
29 anos, que nasceu em Campos de Jordão, agarrado na mineira de 27
anos e na grade que separava a multidão dos supostos VIPs, que tinham
visão privilegiada, mais próximos do palco. O casal chegou de Campinas
às 7 da manhã de sábado, de ônibus – são pesquisadores e fazem
doutorado na Unicamp, juntos. É a primeira vez dos dois no Rio. "Foi
dureza acampar, aguentar o sol e ficar aqui praticamente sem água,
porque não dá para fazer xixi. Mas já valeu", declarou Dennys, pouco
antes do show. "É a única banda pela qual eu faria o que estou
fazendo. Aprendi com os meus pais." A mineira de Alfenas disse que já
tem o que contar para os filhos que pretende ter com Dennys, uma mistura
de "pura aventura e realização". Morador de Copa, o escritor João Antônio
ensinou: "Cada milímetro tem história. Cada horário, seu povo particular."

Texto e fotos
Felipe Werneck

4 comments:

Anonymous said...

legal esse texto do felipe. legal esse blog. tô com saudade do rio, dos amigos daí. fica meu abraço. lufe.

Anonymous said...

curti pra caramba, ficou muito bom! abração!

Anonymous said...
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Anonymous said...
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