Thursday, July 27, 2006







































My Velória

Essa é a capa da Mosh!#13, a revista que nunca vai existir, estrelando minha série "Velória". Mas não se preocupem, ela vai morar na nova publicação capitaneada pelo Renato Lima (co-editor da MOSH!). O projeto chama-se Jukebox. Estréia dia 6 de agosto no teatro Odisséia. Mesmo esquema da nossa querida e finada revista de bolso, quadrinhos sobre rock e afins, só que agora com um pouco mais de matérias.

Velória é uma menina de 16 anos. Estranha, obcecada pela morte, depressiva. Ou seja, uma dolescente normal.

Uma das minhas grandes influências durante a criação da personagem foi o humor obscuro e cínico de um sujeito chamado Stephin Merrit na forma da banda The Gothic Archies, que acaba de lançar uma faixa na coletânea Where's Neil When You Need Him, tributo musical ao roteirista de quadrinhos Neil Gaiman, criador da série moderna do Sandman. Eu sempre acompanhei o trabalho de Merrtit através de sua encarnação mais famosa, o Magnetic Fields, que consiste basicamente de sua voz soturna sobre bases de sintetizadores antigos, versando letras cafonas e desesperadas sobre amor. Tanto que, em 1999, ele lançou o 69 Love Songs. Isso mesmo, são 3 CDs, mais de 3 horas de duração e simplesmente NENHUMA das canções é menos que excelente. Por isso o álbum entrou na lista da maioria dos críticos como um dos melhores da década passada. Só recentemente é que conheci esse projeto paralelo dele, o supracitado Gothic Archies, que é exatamente isso que o nome diz, um mix de música dark (gothic) com um pop quase infantil (Archie, a popular série americana de quadrinhos dos anos 40/50/60). Encaixou perfeitamente no clima que eu buscava para o universo da Velória e mais ainda para a coletânea que homenageia o Neil Gaiman, onde eles contribuiram com a faixa Mr.Punch, originalmente uma graphic novel ilustrada pelo Dave Mckean sobre memórias soturnas da infância de Gaiman. O próximo projeto dos Gothic Archies é um disco inteiro baseado na série de livros infantis de Lemony Snicket, conhecida aqui como Desventuras em Série, que teve até filme estrelado pelo Jim Carrey.

Acompanhem as desventuras de Velória na revista Jukebox, de preferência ouvindo Gothic Archies, Magnetic Fields, Jesus and Mary Chain, Joy Divison e outras desse naipe.

Thursday, April 06, 2006


























I WANT IT LOUD!


Essa é a ilustração que fiz pra capa do CD "I Want It Loud!" que vai ser lançado nesse sábado 8 de abril, no Cine Íris. Clica que ela fica maior.

A edição limitada apresenta um encontro histórico da revista MOSH! com a festa Loud!: 12 bandas de rock independente brasileiro mais um encarte de histórias em quadrinhos.

Sem dúvida, um ponto de confluência importante entre essas duas turmas que têm em comum mais do que o ponto de exclamação no nome. A coragem de oferecer algo diferente. Quando alguém de fora me provoca com aquele velho "no Rio não acontece nada", eu respondo que a cidade não está morta. No Rio ainda tem MOSH!, cara, ainda tem LOUD!.

Seguem alguns motivos que justificam minhas crenças:

Quadrinhos de Gente Grande

Um amigo acaba de me dizer que a capa da Playboy do mês estampa a seguinte chamada "Quadrinhos de Gente Grande - De Watchmen a V de Vigança: 20 anos de uma revolução". O escambau. Odeio quando alguém diz que os quadrinhos pra adulto começaram com Cavaleiro das Trevas e afins. Watchmen é muito bom, Alan Moore escreve pra caramba, mas essas histórias de heróis ainda são para um público determinado, iconoclasta. As verdadeiras HQs pra adultos tem como leitores quem gosta de literatura underground, rock alternativo e congêneres. E foi isso que a MOSH! sacou. A revista publica o que há de melhor no estilo e pela primeira vez no Brasil podemos dizer que existem quadrinhos pra adulto com qualidade artística comparável ao trabalho de Daniel Clowes, Chris Ware, Adrian Tomine, Jaime Hernandez e suas Locas do Love and Rockets. Esses sim fazem histórias pra gente grande.

O maior trunfo da MOSH! é Fábio Lyra. Sua personagem Menina Infinito é perfeita. A capacidade de Lyra de inocular profundidade e melancolia dentro de um contexto aparentemente superficial é incrível. A primeria vista tenho a impressão de estar lendo histórias banais, daquelas que eu já ouvi milhões de vezes da boca de amigos, como ele perdeu a
cartela de consumação de bebidas numa festa, como o ex-namorado deu de presente pra um camarada o CD-R que ela tinha gravado pra ele. Mas graças ao domínio absoluto da narrativa e dos desenhos sublimes, sou quase que forçado a entrar na cabeça da personagem e perceber o quanto o coração dela está quebrado por causa de um simples CD gravado.

De alto nível também são as crônicas suburbanas de Vinícius Mitchell (um ilustrador amadurecido) e o humor corrosivo e traço idem do Super Rock Ghost, de Fábio Monstro. Isso falando dos cariocas. Lá do sul tem o imbatível Odyr e sua Old Muse.

Cinema Pornô

Numa cidade que oferece sol, praias, montanhas e curvas gratuitas o ano inteiro, os acontecimentos "alternativos" sofrem de uma carência de público crônica. Mas a festa LOUD! se mantém ativa sem se vender a patrocinadores e sempre inovando em termos de bandas, DJs, visual e acontecimentos bizarros. Já presenciei cenas antológicas nesses anos de Cine íris, que, pra quem não sabe, funciona como um cinema pornô durante o dia: a volta dos Replicantes onde o público quebrou toda a primeira fila de poltronas, a apresentação do Stereolab com Pedro Almodóvar na platéia. Um casamento no palco, dois campeonatos de Air Guitar.

Encontro

Participei da trajetória da MOSH! desde quase o início, produzi os primeiros lançamentos da revista e desenhei algumas histórias. Desde 2003 faço as projeções de vídeos no terraço da LOUD!
A revista me fez voltar a desenhar quadrinhos e a festa mostrou meu trabalho visual para um público diferente e de forma inusitada. Fora o fato de que apresentei uma para outra num lançamento da MOSH! que fiz na LOUD! em 2004. Por isso mesmo foi com muita honra que desenhei a capa para o CD/revista que materializa o encontro desses dois titãs da cena alternativa carioca. Nada mais justo.

Sandro Menezes

Friday, March 03, 2006












O DIABO E DANIEL JOHNSTON

No Rio Fanzine do Globo de hoje, vocês poderão ler a matéria que fiz sobre Daniel Johnston, um músico que influenciou de Kurt Cobain a Beck, esteve presente nas trilhas sonoras fundamentais dos anos 90 (Kids, My So Called Life, Antes do Amanhecer) mas sua loucura crônica o fez invisível ao grande público.

Esbarrei no trabalho dele sem querer, como esbarramos nas melhores coisas que nos seguem pelo resto da vida, a mulher que amamos, os melhores amigos e os vícios que nos destroem ao mesmo tempo em que nos fazem vivos. Folheava pela milionésima vez o catálogo da editora de quadrinhos Fantagraphics quando me deparei com um livro chamado Songs in The Key of Z, sobre música Outsider: mendigos cantores, imitadores de Elvis suecos e coisas do gênero. A publicação era devidamente acompanhada de um CD. Não sosseguei enquanto não arranjei o disco.

No meio daquela bizarria, na maioria curiosidades impossíveis de serem ouvidas mais de uma vez, estava Daniel Johnston. Suas canções me acompanham desde então. O texto do jornal e o desenho que o ilustra são meu humilde tributo a ele.

Sandro

Wednesday, February 22, 2006

















































Réveillon na Kitchenette


A melhor definição veio de um especialista em Copacabana:
"É maravilhoso, como se fosse o réveillon numa kitchenette. Uma
democracia agressiva, a intensividade de Copa multiplicada,
eletricidade de gente fulminante", declarou Fausto Fawcett, às seis da
tarde de sábado, no balcão do Cervantes, copo de Ballantines numa mão,
caldeireta de chope na outra. Faltavam quatro horas para o concerto dos
Rolling Stones na praia.
"Nesse sentido eu sou fundamentalista: qual banda poderia reunir cinco
gerações? Não é chama, eles mantêm um incêndio aceso. Tinha que ser
aqui, não poderia ser em outro lugar. Copa é Rolling Stones, um
homenageia o outro. É sensacional", disse Fausto, citando Exile on
Main Street, o "maior disco de todos os tempos". "Eles vão abrir e
fechar com dois hinos. 'Eu não consigo ter satisfação' é o hino da
humanidade."
Na praia, tinha de tudo: motoqueiros com casaco de couro e chifres no
capacete, bebês vestidos de preto, "wisk" com red bull, uma competição
pacífica de camelôs, punks e pitboys, pivetes, profissionais do sexo
(de folga), das drogas e do rock, turistas sem norte, onde parecia não
haver pecado. Uma multidão movida a skol e churrasquinho. Mais de
1,2 milhão de pessoas reunidas, muitos desmaios e celulares furtados,
quase nenhuma confusão, e o vocalista do Afroreggae, grupo criado
na Favela de Vigário Geral, que abriu a noite, se empolga: "Não existe
divisão no Rio." Não é verdade. Um mendigo tentou dar uma explicação
para a quase inacreditável ausência de tumulto: "Copacabana não precisa
de detector de metais".
Um frade perdido em meio a Sympathy for The Devil? "Sou admirador
desses meninos há 40 anos. Acho muito bonito, é importante estar com o
povo, ao lado da juventude", disse o frei Francisco Alves Barbosa,
vestido a caráter, que se apresentou como promotor vocacional da
Congregação dos Padres Sacramentinos. Tirou fotografias ao lado de fãs
da banda. A reportagem perguntou sobre as letras: "Gosto da música,
mas não sei inglês. É alegre, extrovertido, me sinto encantado." O
índio Benki Pivanko veio de longe - ele é de uma tribo que fica na
divisa do Acre com o Peru. "É muito barulhento, mas eu gostei."
Dennys e Angélica Cintra são dois sortudos: sem crachá vip, eles
chegaram lá. Os dois ficaram na primeira fila do gargarejo, no ponto
central mais próximo do palco, na frente de 1, 2 milhão de mortais.
"Tenho uma história pra te contar: hoje é nosso aniversário de
casamento, foi o meu presente para ela", disse o apaixonado Dennys, de
29 anos, que nasceu em Campos de Jordão, agarrado na mineira de 27
anos e na grade que separava a multidão dos supostos VIPs, que tinham
visão privilegiada, mais próximos do palco. O casal chegou de Campinas
às 7 da manhã de sábado, de ônibus – são pesquisadores e fazem
doutorado na Unicamp, juntos. É a primeira vez dos dois no Rio. "Foi
dureza acampar, aguentar o sol e ficar aqui praticamente sem água,
porque não dá para fazer xixi. Mas já valeu", declarou Dennys, pouco
antes do show. "É a única banda pela qual eu faria o que estou
fazendo. Aprendi com os meus pais." A mineira de Alfenas disse que já
tem o que contar para os filhos que pretende ter com Dennys, uma mistura
de "pura aventura e realização". Morador de Copa, o escritor João Antônio
ensinou: "Cada milímetro tem história. Cada horário, seu povo particular."

Texto e fotos
Felipe Werneck

Tuesday, February 21, 2006





















Mundo Fantasma

Duas boas notícias para quem gosta de Ghost World (exibido aqui nos cinemas uma vez apenas com o nome de Mundo Cão):

1) O roteirista Daniel Clowes, autor dos quadrinhos que originaram o filme, já está com seu novo projeto ao lado de Terry Zwigoff (que também dirigiu Ghost World) terminado. Art School Confidential.

Vejam o trailer: http://www.comingsoon.net/films.php?id=5447

Podemos esperar o melhor do filme, quem viu Mundo Cão e leu a graphic novel original sabe que Clowes se mostrou um hábil roteirista de cinema, transformando a melancólica história em quadrinhos numa comédia, sem perder a substância.

2) Sabendo disso, o genial Michel Gondry (Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças) chamou Daniel para escrever seu próximo enredo. Um longa baseado no livro de ficção científica "Master of Space and Time", onde um cientista enlouquece e cria um mundo paralelo com árvores de onde nascem batatas-fritas e costeletas de porco.

Enquanto os dois filmes não aportam por aqui vale colocar em dia o trabalho de Daniel Clowes: Ghost World é leitura obrigatória, as meninas que ilustram esse texto mudaram minha vida, voltei a ler e procurar bons quadrinhos, e também a escrever e desenhar. Aproveitem o dólar barato e comprem na Amazon. Quanto ao filme, fiquem ligados no Telecine Cult (ótimo canal) que tá passando direto. Eu já gravei o meu.

Rock 'n' roll, baby. Freedom of Speech!

Sandro