Thursday, April 06, 2006


























I WANT IT LOUD!


Essa é a ilustração que fiz pra capa do CD "I Want It Loud!" que vai ser lançado nesse sábado 8 de abril, no Cine Íris. Clica que ela fica maior.

A edição limitada apresenta um encontro histórico da revista MOSH! com a festa Loud!: 12 bandas de rock independente brasileiro mais um encarte de histórias em quadrinhos.

Sem dúvida, um ponto de confluência importante entre essas duas turmas que têm em comum mais do que o ponto de exclamação no nome. A coragem de oferecer algo diferente. Quando alguém de fora me provoca com aquele velho "no Rio não acontece nada", eu respondo que a cidade não está morta. No Rio ainda tem MOSH!, cara, ainda tem LOUD!.

Seguem alguns motivos que justificam minhas crenças:

Quadrinhos de Gente Grande

Um amigo acaba de me dizer que a capa da Playboy do mês estampa a seguinte chamada "Quadrinhos de Gente Grande - De Watchmen a V de Vigança: 20 anos de uma revolução". O escambau. Odeio quando alguém diz que os quadrinhos pra adulto começaram com Cavaleiro das Trevas e afins. Watchmen é muito bom, Alan Moore escreve pra caramba, mas essas histórias de heróis ainda são para um público determinado, iconoclasta. As verdadeiras HQs pra adultos tem como leitores quem gosta de literatura underground, rock alternativo e congêneres. E foi isso que a MOSH! sacou. A revista publica o que há de melhor no estilo e pela primeira vez no Brasil podemos dizer que existem quadrinhos pra adulto com qualidade artística comparável ao trabalho de Daniel Clowes, Chris Ware, Adrian Tomine, Jaime Hernandez e suas Locas do Love and Rockets. Esses sim fazem histórias pra gente grande.

O maior trunfo da MOSH! é Fábio Lyra. Sua personagem Menina Infinito é perfeita. A capacidade de Lyra de inocular profundidade e melancolia dentro de um contexto aparentemente superficial é incrível. A primeria vista tenho a impressão de estar lendo histórias banais, daquelas que eu já ouvi milhões de vezes da boca de amigos, como ele perdeu a
cartela de consumação de bebidas numa festa, como o ex-namorado deu de presente pra um camarada o CD-R que ela tinha gravado pra ele. Mas graças ao domínio absoluto da narrativa e dos desenhos sublimes, sou quase que forçado a entrar na cabeça da personagem e perceber o quanto o coração dela está quebrado por causa de um simples CD gravado.

De alto nível também são as crônicas suburbanas de Vinícius Mitchell (um ilustrador amadurecido) e o humor corrosivo e traço idem do Super Rock Ghost, de Fábio Monstro. Isso falando dos cariocas. Lá do sul tem o imbatível Odyr e sua Old Muse.

Cinema Pornô

Numa cidade que oferece sol, praias, montanhas e curvas gratuitas o ano inteiro, os acontecimentos "alternativos" sofrem de uma carência de público crônica. Mas a festa LOUD! se mantém ativa sem se vender a patrocinadores e sempre inovando em termos de bandas, DJs, visual e acontecimentos bizarros. Já presenciei cenas antológicas nesses anos de Cine íris, que, pra quem não sabe, funciona como um cinema pornô durante o dia: a volta dos Replicantes onde o público quebrou toda a primeira fila de poltronas, a apresentação do Stereolab com Pedro Almodóvar na platéia. Um casamento no palco, dois campeonatos de Air Guitar.

Encontro

Participei da trajetória da MOSH! desde quase o início, produzi os primeiros lançamentos da revista e desenhei algumas histórias. Desde 2003 faço as projeções de vídeos no terraço da LOUD!
A revista me fez voltar a desenhar quadrinhos e a festa mostrou meu trabalho visual para um público diferente e de forma inusitada. Fora o fato de que apresentei uma para outra num lançamento da MOSH! que fiz na LOUD! em 2004. Por isso mesmo foi com muita honra que desenhei a capa para o CD/revista que materializa o encontro desses dois titãs da cena alternativa carioca. Nada mais justo.

Sandro Menezes